Instalação dos Módulos Antárticos Emergenciais (MAEs)
O Governo brasileiro agiu
com rapidez depois do incêndio da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) em
2012, abrindo um crédito extraordinário de R$ 40 milhões no Orçamento Federal para
fazer frente às despesas necessárias à garantia do retorno da presença do país
na Antártida. Esses recursos custearam a remoção dos escombros e limpeza do
sítio sinistrado e a construção de uma base provisória –os Módulos Antárticos
Emergenciais (MAEs).
MAEs são os módulos pré-montados
idealizados pela Marinha do Brasil (MB), aptos a integrar uma estação
auto-suficiente, dotada de todos os recursos necessários para suportar a
presença humana no ambiente inóspito da Antártida. Deveriam obedecer a uma
série de critérios técnicos e ter uma vida útil mínima de 5 anos, para que
pudessem ser utilizados até a conclusão da reconstrução. Um processo de seleção foi realizado, com o convite a trinta empresas.
Doze propostas foram recebidas, mas, ao fim, a única fornecedora que se adequou
integralmente às necessidades da MB foi a canadense Weatherhaven Canada Resources,
dotada de grande expertise no ramo de
construções portáteis e desmontáveis e com vasta experiência nas regiões
polares.
O
modelo escolhido foi o HERCon (Hard-Wall
Expandable Redeployable Container –em português, “Contêiner Expansível e
Reimplantável de Parede Rígida”). Compostos por uma estrutura metálica revestida
com paredes em várias camadas que asseguram o isolamento térmico, são abrigos habitáveis
expansíveis, que quase triplicam de tamanho quando armados mas que são de fácil
transporte, pois têm a bitola de um contêiner ISO (de navegação). A um custo de
R$ 14 milhões (ver aqui e aqui), a nova
base é de montagem rápida, podendo as unidades ser desarmadas e realocadas em
outro lugar com perda mínima de materiais, inclusive sob a forma de duas ou
mais instalações separadas.
Os módulos foram fabricados
no Canadá e na África do Sul e unificados na Argentina, sendo depois levados de
caminhão para Punta Arenas. De lá, foram transportados até a baía do Almirantado pelo navio da marinha argentina ARA Bahía San Blas, no qual também
embarcaram 17 civis que trabalharam na montagem (8 canadenses, 6 chilenos e 3
brasileiros). O material foi descarregado em 06 de fevereiro e no dia seguinte a
maior parte dele já estava posicionada sobre o heliponto da EACF, que recebera antes um reforço estrutural (ver aqui, p. 47). Esse local
foi escolhido para evitar o acúmulo de neve e como medida de redução do impacto
ambiental.
Nesse momento, o desmonte dos
destroços da estação já estava finalizado, restando ainda tarefas de limpeza do
local. As telecomunicações (sinais de internet, celular e TV) foram restabelecidas em 20 de fevereiro de 2013 pela empresa Oi, que já era responsável pelo serviço
desde 2006 e assumiu o custo dos novos equipamentos.
A implantação dos MAEs demorou cerca de um mês e foi
coordenada por engenheiros da MB, que também proveu os veículos e os equipamentos
necessários. Em 14 de março a base temporária estava erguida, ficando pronta
para a invernada em poucos dias. Perfazendo um total de 940 m2 de
área, ela é composta por 45 módulos
interligados,
de três tipos: Weatherhaven HERCon, contêineres
ISO standard e contêineres ISO
modificados.
Os MAEs são uma estação completa,
com alojamentos, área de convivência, instalações administrativas e
operacionais e sistemas de
combate a incêndio. Com capacidade para abrigar até 66 pessoas, o conjunto é
formado por três setores, compostos de vários módulos. O setor habitacional é integrado por
dormitórios (6 unidades), banheiros (3 unidades), refeitório, cozinha e
corredores (6 unidades). O setor de serviços é composto por sala de secagem, lavanderia,
laboratório, escritório, enfermaria, refrigeração (2 unidades) e despensa (2
unidades). Fazem parte do setor de operação e manutenção a área
de armazenamento de resíduos sólidos (2 unidades), o incinerador e a rede hidrossanitária, além de elementos
externos, como os geradores, a estação de tratamento de esgoto, a oficina e o
tanque séptico.
Como conclusão da habilitação
do complexo, os laboratórios de química (que recebeu mais contêineres), meteorologia
e estudo da alta atmosfera foram reativados com êxito. Funcionando em sua
segunda sede, a EACF abrigou 15
militares do grupo-base durante o inverno de 2013.
Aqui, um vídeo que mostra um pouco da estrutura dos MAEs. Aqui, outro vídeo mostra um pouco da vida dos expedicionários no local.
A instalação dos Os Módulos Antárticos Emergenciais fez parte da maior mobilização executada pelo PROANTAR (Programa Antártico Brasileiro) até então. A OPERANTAR XXXI (Operação Antártica 2012-13) serviu-se de cinco navios para apoiar as atividades de limpeza e construção na península Keller, dar suporte à pesquisa e desempenhar outras tarefas. O Almirante Maximiano (H 41) ficou dedicado à investigação científica, enquanto Ary Rongel (H 44) e Felinto Perry (K 11) cumpriram missões nas imediações da EACF. O navio mercante Germania (atual MSC Maria, IMO 9067544) apoiou diretamente as atividades de demolição.
A instalação dos Os Módulos Antárticos Emergenciais fez parte da maior mobilização executada pelo PROANTAR (Programa Antártico Brasileiro) até então. A OPERANTAR XXXI (Operação Antártica 2012-13) serviu-se de cinco navios para apoiar as atividades de limpeza e construção na península Keller, dar suporte à pesquisa e desempenhar outras tarefas. O Almirante Maximiano (H 41) ficou dedicado à investigação científica, enquanto Ary Rongel (H 44) e Felinto Perry (K 11) cumpriram missões nas imediações da EACF. O navio mercante Germania (atual MSC Maria, IMO 9067544) apoiou diretamente as atividades de demolição.
O San Blas foi cedido pela
Armada Argentina no marco da Operación Fraternidad Antártica I, cabendo ao Brasil apenas
pagar pelo combustível consumido. Além de atuar nas operações de transporte, o
navio proveu alojamento a bordo e preparação e distribuição de refeições para o
pessoal em terra, prestando também outros auxílios, como pintura de módulos
isolados e serviços variados de seu pessoal (eletricista, enfermeiro, meteorologista
e mergulhadores). O importante apoio oferecido pelo ARA Bahía San Blas durante sua
estada na enseada Martel é uma expressão do espírito de solidariedade
internacional que predomina na Antártida, já observado quando do incêndio da
EACF no ano anterior. Durante o verão 2012-13, a Argentina ainda franqueou ao
Brasil o uso de sua base Cámara, na ilha Meia Lua, a cerca de 90 km da EACF.
______________________________
FONTES:
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/04/marinha-finaliza-obra-de-estacao-brasileira-provisoria-na-antartica.html;
https://www.marinha.mil.br/secirm/sites/www.marinha.mil.br.secirm/files/publicacoes/infocirm/2013/infocirm-jan-abr-2013.pdf;
Comandante Ferraz Station: Proposed Plan for the Demolition and Construction of Antarctic Emergency Modules. Documento WP 53, apresentado à XXXV Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Hobart, Austrália, em 2012 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2).
Os Módulos Antarticos Emergenciais Brasileiros. Documento DI 20, apresentado à XXIII Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada no Rio de Janeiro, em 2012 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;
31ª Operación Antártica (OPERANTAR XXXI). Documento IP 78, apresentado à XXXVI Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Bruxelas, Bégica, em 2013 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2);
Instalación de los Módulos Antárticos de Emergencia. Documento IP 95, apresentado à XXXVI Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Bruxelas, Bégica, em 2013 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2);
O nível de Satisfação dos Usuários dos Módulos Antárticos Emergenciais (MAEs) do Brasil como Ferramenta Auxiliar para o Plano de Manutenção. Documento DI 03, apresentado à XXIV Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada em La Serena, Chile, em 2013 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;
Instalação dos Módulos Antárticos Emergenciais. Documento DI 06, apresentado à XXIV Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada em La Serena, Chile, em 2013 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;
XXXVII Antarctic Operation (OPERANTAR XXXII). Documento IP 05, apresentado à XXXVII Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Brasília, em 2014 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2);
32ª Operación Antártida (OPERANTAR XXXII). Documento DI 01, apresentado à XXV Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada em Buenos Aires, em 2014 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;
MARTINS, Wagner Gomes. Avaliação de Desempenho e Conforto Térmico nos Módulos Antárticos Emergenciais. Dissertação de Mestrado na UFES, 2016. Disponível em http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_10458_dissertacao_wagner_g_martins.pdf.
https://www.marinha.mil.br/secirm/sites/www.marinha.mil.br.secirm/files/publicacoes/infocirm/2013/infocirm-jan-abr-2013.pdf;
Comandante Ferraz Station: Proposed Plan for the Demolition and Construction of Antarctic Emergency Modules. Documento WP 53, apresentado à XXXV Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Hobart, Austrália, em 2012 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2).
Os Módulos Antarticos Emergenciais Brasileiros. Documento DI 20, apresentado à XXIII Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada no Rio de Janeiro, em 2012 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;
31ª Operación Antártica (OPERANTAR XXXI). Documento IP 78, apresentado à XXXVI Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Bruxelas, Bégica, em 2013 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2);
Instalación de los Módulos Antárticos de Emergencia. Documento IP 95, apresentado à XXXVI Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Bruxelas, Bégica, em 2013 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2);
O nível de Satisfação dos Usuários dos Módulos Antárticos Emergenciais (MAEs) do Brasil como Ferramenta Auxiliar para o Plano de Manutenção. Documento DI 03, apresentado à XXIV Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada em La Serena, Chile, em 2013 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;
Instalação dos Módulos Antárticos Emergenciais.
XXXVII Antarctic Operation (OPERANTAR XXXII). Documento IP 05, apresentado à XXXVII Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, realizada em Brasília, em 2014 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2);
32ª Operación Antártida (OPERANTAR XXXII).
MARTINS, Wagner Gomes. Avaliação de Desempenho e Conforto Térmico nos Módulos Antárticos Emergenciais. Dissertação de Mestrado na UFES, 2016. Disponível em http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_10458_dissertacao_wagner_g_martins.pdf.
Comentários
Postar um comentário