Remoção dos escombros da Estação Antártica Comandante Ferraz





A limpeza do entulho resultante do incêndio da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) teve início poucos dias após o sinistro. O processo começou já no dia 1º de março de 2012, executado por uma equipe de avaliação de danos (formada por um membro do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), sete do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro e pelos doze integrantes do grupo-base que permaneceram no continente austral depois do incêndio). Os trabalhos priorizaram a remoção dos itens mais tóxicos e a selagem da base para o inverno, de maneira a evitar o acúmulo de neve e gelo no interior do edifício destruído. No dia 07 de abril os navios Almirante Maximiano (H 41) e Ary Rongel (H 41) suspenderam da baía do Almirantado e retornaram para o Brasil.

No verão seguinte, o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) organizou um grande esforço logístico com o uso de cinco navios: além do H 41, do H 44 e do K 11 (Navio de Socorro Submarino Felinto Perry), da Marinha do Brasil, também foram empregados o ARA Bahía San Blas, da marinha argentina, e o navio mercante Germania (atual MSC Maria, IMO 9067544). Toda essa mobilização realizada pela Operação Antártica 2012-13 (OPERANTAR XXXI) visou não somente dar seguimento às atividades de pesquisa brasileiras na região, mas também propiciar condições para a retirada dos destroços da EACF, com a subsequente instalação de uma estação temporária, a permanecer no local até a construção da nova base. O trabalho científico em terra na península Keller foi reduzido durante a temporada; em contrapartida a Argentina havia disponibilizado ao Brasil o uso de sua base Cámara, na ilha Meia Lua, a cerca de 90 km da baía do Almirantado.





O H 41 dedicou-se exclusivamente ao apoio logístico à ciência fora na área das baías do Almirantado e Maxwell. O H 44 e o K 11 foram usados no suporte aos trabalhos de desmanche e construção e em outras tarefas, inclusive científicas. Ao ARA Bahía San Blas coube efetuar o transporte da estação provisória a ser montada no local –os Módulos Antárticos de Emergência (MAEs). O MV Germania, de grande capacidade de carga, levou todos os veículos e equipamentos necessários à tarefa de demolição, além dos militares que atuaram no trabalho de retirada dos escombros. Na volta, o Germania conduziu os destroços da EACF e o equipamento utilizado para o Brasil.






Executado por homens do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) e do Batalhão de Engenharia dos Fuzileiros Navais (BtlEngFN) sob a coordenação da SECIRM (Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar), o processo de remoção dos escombros foi complexo: começou no dia 18 de novembro com a preparação da área de trabalho e concomitante desembarque do equipamento necessário. O desmonte propriamente dito aconteceu entre 1º de dezembro e 12 de janeiro, e foi executado junto com os trabalhos de limpeza, que se estenderam até 17 de março. Somente uma parte do prédio principal foi mantida e recuperada: o chamado "garajão".

Nessa data, o MV Germania zarpou carregado com 900t de entulho, distribuídos em mais de 60 contêineres e correspondentes a uma área desmontada de 2.550m2. No final de março a operação foi dada por encerrada, com a descarga dos destroços no AMRJ, para encaminhamento adequado, com os escombros de aço vendidos em leilão e os escombros de cinza descartados por empresa especializada (em março de 2018, no entanto, três contêineres cheios de rejeitos da operação permaneciam em Punta Arenas, provocando repercussão – ver aqui e aqui)
















Quando a equipe chegou, havia muita neve e gelo no sítio, e era necessário retirá-los antes do desmantelamento das instalações. Isso devia ser feito rapidamente, pois, à medida que o verão avançasse, o degelo aumentaria, carreando resíduos do local incendiado para o mar e o solo e ampliando a contaminação. Traçou-se um plano para a retirada do gelo ou água que estivessem contaminados. Também foram escavadas canaletas, prevenindo o degelo dos glaciares ao redor, e o terreno foi isolado com uma manta de geotêxtil. A adequada limpeza do local mitigou a contaminação e possibilitou o início da execução do plano de remediação do solo já no verão seguinte.

O Governo Federal foi ágil diante da situação e abriu um crédito extraordinário de R$ 40 milhões para os trabalhos de limpeza do local e para a instalação da base provisória. O PROANTAR atuou com eficiência e no final de março de 2013 a estação temporária já estava instalada e pronta para o inverno.



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FONTES:



Informações Gerais Sobre a OPERANTAR XXXI. Documento DI 02, apresentado à XXIII Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada no Rio de Janeiro, em 2012 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;

Plano de Controle Ambiental para o Desmonte da Estação Antártica Comandante Ferraz. Documento DT 04, apresentado à XXIII Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada no Rio de Janeiro, em 2012 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;

31ª Operación Antártica (OPERANTAR XXXI). Documento IP 78, apresentado à XXXVI Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, em Bruxelas, Bégica, 2013 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2);

Demolición de la Base Antártica "Comandante Ferraz" (EACF). Documento IP 96, apresentado à XXXVI Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, em Bruxelas, Bégica, 2013 – disponível em http://www.ats.aq/devAS/ats_meetings_doc_database.aspx?lang=e&menu=2);

Demolição da Base Antártica Comandante Ferraz (EACF). Documento DI 05, apresentado à XXIV Reunión de Administradores de Programas Antárticos Latinoamericanos, realizada em La Serena, Chile, em 2013 –disponível em http://www.rapal.org.ar/DOCS/INDEX.HTM;


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