Naufrágio de chata com óleo combustível na enseada Martel
Em 29 de outubro de 2011, durante
a faina de abastecimento dos tanques de combustível, uma chata transportando 10.000 litros
de gasoil arctic transferidos do
Navio Polar (NPo) Almirante Maximiano naufragou na enseada Martel, diante da
Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF). A barca não possuía motores nem
tripulação, e estava sendo rebocada por quatro embarcações menores quando foi
atingida pelo mau tempo, indo a pique a 900m da praia. A chata ficou a 43
metros de profundidade, e o óleo combustível acondicionado em 17 tanques no seu
interior não vazou (Comandante Ferraz Station: Oil Barge
Incident. Documento IP 65, apresentado à XXXV Reunião do Secretariado do Tratado da Antártida, em Hobart, Austrália, 2012 – disponível em https://www.ats.aq/devAS/Meetings/DocDatabase?lang=e).
O fato foi mantido em segredo até o fim da noite de 24 de fevereiro, quando foi veiculado já com a notícia de que a operação de socorro chegaria na semana seguinte. Mas para grande azar das autoridades que esconderam o acidente do público durante quase quatro meses, poucas horas depois desssa revelação aconteceria o maior insucesso da história do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR): na madrugada do dia seguinte um incêndio devastou a maior parte da estação Comandante Ferraz.
O fato foi mantido em segredo até o fim da noite de 24 de fevereiro, quando foi veiculado já com a notícia de que a operação de socorro chegaria na semana seguinte. Mas para grande azar das autoridades que esconderam o acidente do público durante quase quatro meses, poucas horas depois desssa revelação aconteceria o maior insucesso da história do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR): na madrugada do dia seguinte um incêndio devastou a maior parte da estação Comandante Ferraz.
Assim, um evento que
poderia ter se resumido a um revés logístico de moderado risco ambiental, caso
tivesse sido tornado público de imediato, passou a fazer parte de uma grande tragédia
brasileira na Antártida. À comoção causada pela perda de um importante
ativo estratégico como a EACF somaram-se justificadas acusações de falta de
transparência por parte do Estado brasileiro, signatário de tratados
internacionais que versam sobre a proteção ambiental do continente austral. 2012,
o annus horribilis do Brasil na
Antártida, ainda registraria um outro naufrágio, o do iate privado Mar Sem Fim, no dia 7 de abril.
A retirada da chata do
fundo da enseada Martel foi efetuada por mergulhadores embarcados no navio de
apoio ao mergulho Gulmar Atlantis, registrado nas Ilhas Marshall e fretado pela
Petrobras, com apoio NPo Almirante Maximiano. A operação durou cinco dias e foi
concluída com sucesso no dia 03 de março. O içamento da estrutura foi realizado
com o uso de guindaste, e bóias infláveis foram utilizadas para a reflutuação
da embarcação. O óleo foi bombeado de volta para o interior do navio Almirante
Maximiano e o procedimento foi concluído com segurança com o rebocamento da
barca até a EACF (http://www.naval.com.br/blog/2012/03/03/nota-a-imprensa-reflutuacao-da-chata-na-antartica-nota-a-imprensa/).
Afinal, não ocorreu nenhum vazamento e ninguém ficou ferido. Não houve tragédia ambiental, mas sim um desastre de relações públicas que ajudou a comprometer a imagem do PROANTAR justamente em seu momento mais delicado. Depois do incêndio, o Brasil implementou uma rápida e eficiente programação de remoção dos escombros da base, seguida de um processo de remediação do solo.
Afinal, não ocorreu nenhum vazamento e ninguém ficou ferido. Não houve tragédia ambiental, mas sim um desastre de relações públicas que ajudou a comprometer a imagem do PROANTAR justamente em seu momento mais delicado. Depois do incêndio, o Brasil implementou uma rápida e eficiente programação de remoção dos escombros da base, seguida de um processo de remediação do solo.
A logística de
abastecimento da estação a partir dos navios polares, contudo, não mudou desde
aquela época. A movimentação de óleo e de carga geral dos navios para a estação
Comandante Ferraz continua sendo realizada com o auxílio de chatas, mas as
embarcações atualmente utilizadas, fabricadas pelo Arsenal de Marinha do Rio de
Janeiro, têm dupla motorização na popa (http://www.defesanet.com.br/naval/noticia/8477/Arsenal-de-Marinha-conclui-a-construcao-da-nova-chata-de-carga-para-Estacao-Antartica-Comandante-Ferraz/ , http://nitnave.com.br/clientes.php e
https://www.marinha.mil.br/node/2749).
Barcas de carga geral continuarão
sendo usadas mesmo que se construa um píer para o manuseio de volumes sólidos no
local, já que a profundidade do fundo da enseada não permite a aproximação de
grandes navios. Embora tal obra nunca tenha sido aventada pela Marinha do Brasil
(MB), considera-se que sua execução aumentaria a segurança nas operações de carga
e descarga. Diversas estações antárticas possuem píeres de águas rasas, usados
por chatas e barcaças.
Em 2020 persistia a
utilização de chatas no transporte de combustível. Na Antártida, a MB ainda não faz uso de um
sistema de dutos que permita a transferência do óleo diretamente dos navios
para os tanques em terra, procedimento considerado mais seguro e que é usual em
muitas estações antárticas (ver aqui fotos da faina na estação uruguaia Artigas em
2015). Existe um estudo de 2012 sobre um sistema de abastecimento com mangueiras que chegou a ser desenvolvido e entregue pela empresa Glow Soluções Técnicas mas que, curiosamente, jamais foi implantado. Não está claro se foi esse mesmo equipamento que passou por testes bem-sucedidos em março de 2014, quando do reabastecimento do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT).
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